quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Paredes brancas

Mal eram seis da manhã, e ainda não havia dormido. Olhava para as paredes brancas de seu quarto, e revivia algumas memórias alheias. Se lembrou de uma em especial.

- Tá com saudade? - Ele perguntava.
- Tô, e você? - Ela dizia relutante, não querendo admitir a falta insuportável que ele fazia.
- Também.

Ela queria que aquele "também" fosse o suficiente para acalentar aquele coração carente. Carente pela falta dele. Mas ela conseguia sentir a frieza na voz dele. Ele não havia feito qualquer esforço para tentar fazer com que suas palavras soassem como verdades. Aquela frieza a matava por dentro.
Mal sabia que aquela frieza estava só por começar.

Parou um momento, não conseguia e não queria digerir mais aquelas memórias. Não precisava remoelas. Não dessa vez. Mas aquelas palavras ecoavam em sua mente, em um vácuo sem fim.

- Por que você não atende?
- Sei lá. Eu gosto de ficar escutando a música que toca.
(Silêncio)
- Mas vai continuar atendendo? - Ela ainda tentava.
- Talvez.

Talvez.... Talvez.

O relógio agora marcava seis em ponto. E ela ainda continuava perdida naquela memória. Naquela memória que não se apagava. Naquele telefonema frio. Aquilo acabava com ela cada vez que lembrava. Cada vez que sentia a maldita falta dele. Cada vez que doía. Cada vez que pensava que um dia ele significara seu mundo. "Trezentos e sessenta graus" - pensou. Trezentos e sessenta graus.

Não, pára.

Quis lembrar das desculpas pedidas sem saber o porquê. Quis lembrar das milhares de desculpas sem intenção. Das milhares de palavras que fizeram sua base. Daquele aconchego que sentia, mesmo de longe. Daquela segurança. Daquela certeza de que ele sempre estaria ali. De quando ele disse que faria o que pudesse.

E agora ele era apenas uma memória. Uma maldita memória que não se apagava. Uma maldita memória que doía. Uma maldita memória que trazia saudade. Uma maldita....

Maldita? Maldita.

Queria acreditar que no fundo ela ainda teria esperanças. De que tudo se revertesse, de que ele mudasse de ideia e voltasse. Mas isso não iria acontecer, e ela sabia. Tentava se convencer de que assim era melhor, se não ficou, era porque era leve demais. E tudo que é leve demais o vento leva.
O único problema era que não havia sido o vento que o levara. Ele, por si só, se fora embora. A deixara. Não olhara pra trás. Não fizera esforço para que ela pensasse que ele ainda estaria ali, mesmo de longe. Não fizera nada.

Malditas paredes brancas daquele quarto. A encheria com outras memórias, com fotos alegres, com cores. Nada que dali por diante a fizesse lembrar dele quando batesse os olhos naquelas paredes brancas. Não teria quase-manhãs como aquela mais. Tudo mudaria. Ele não mais existiria.

Mas a quem ela queria enganar? Ele sempre existiria. Fosse pela dor, fosse pela mudança. Ele sempre iria existir dentro dela.
Mesmo que um dia não chegasse a doer, ele existiria. Existiria porque ela o amou. Existiria porque ele a fez acreditar. Existiria por tê-la cuidado. Existiria por existir. Porque ele existia. Dentro ou fora, ele existiria. Ele ainda existe. E nunca iria embora, não daquele peito. Não daquelas memórias.

Pensou bem.
Deixa as paredes brancas, ela gostava de lembrar.

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