quinta-feira, 16 de junho de 2011

Ligação.

Resolveu jogar fora o resto de amor próprio que ainda havia, e pegou o telefone. Discando pela ultima vez - tentando se convencer que seria a ultima, mesmo já sabendo que não era - aqueles números. Era cedo, antes da sete, e o bip ansioso da chamada não se calava. “Alô?” ouviu-se alguém do outro lado dizer. “Oi”, fora tudo o que conseguira falar, pois havia travado. “Quem é?” perguntavam-lhe. Percebera que teria de agir rápido, pois aquela talvez seria realmente a unica chance de dizer tudo o que estava guardado por meses dentro do peito. “Não que isso vá importar agora, já que não importou meses atrás, certo?” Parou por um momento, respirou fundo, e então continuou: “Também não te liguei para brigar. E muito menos para pedir que você volte. Só queria lhe avisar que toda ação tem uma consequência, e que caso resolva voltar, terá que aceitar todas as perdas que teve. Todas as decepções que causara, e todas as feridas que abrira. E seja lá quem for o seu atual, meu amor, saiba que também está me perdendo. Não porquê quero desistir, e sim por não suportar mais tanta saudade em meu ser. Por não suportar tanta decepção, e tantas perguntas sem respostas. Por não suportar que quem eu menos esperava, me abandonara.” Se calou novamente. Silêncio do outro lado da linha. “Ainda está aí?” Disse. Ouvira um “sim” seco do outro lado. “Que bom. E pelo visto, isso tanto importa agora, quanto antes. Realmente foi uma perda de tempo…” “Espera”. Silêncio. “Não digas coisas que não sabes. Não diga sobre os meus sentimentos que você não ousou sentir.” Pausa. “Pode parecer o que for, mas apenas eu saberei da verdade.” “Então qual é? Diga-me. Porque fostes embora?” “Porque não suportava mais a sua indiferença. A sua ausência presente, as fotos jogadas para qualquer lado. Você partiu antes mesmo do que eu. Não se lembra?” Parava um momento pra refletir. Algo estava errado, algo não se encaixava. Ela não teria ido embora, não teria feito aquilo. Amava-o mais do que qualquer coisa, não havia porquê abandonar-lhe. “Se estais mesmo certo, porquê então me atendera?” “Porque queria que percebesse a verdade, e queria ouvir a sua voz uma ultima vez.”  Perturbada com aquelas ultimas palavras, disse sem pensar: “Pois então já ouviu. Deveria teres tentado falar comigo, me ligado, qualquer coisa do tipo. Mesmo para dizeres apenas que estavas vivo. É isso que não aceito. Você aceitou a minha indiferença, e não tentou me trazer de volta. Usou isto como mais um pretexto para ires embora.” Respirou. “Digo, você ao menos se importou quanto devias para me trazer de volta. E se foi. Não fazes idéia de quanto doeu, e de quanto ainda dói. Mas continuas a achares que estais certo. Agora confirmastes que foi um grande erro essa ligação.” Dessa vez do outro lado, engolia a seco todas aquelas palavras. Sem intenção alguma de tentar se explicar, ou revidar. Apenas aceitou, e a unica coisa que conseguires dizer foi: “Você tem razão, mas agora já é tarde demais pra discutir isso.” “Tarde de mais pra discutir qualquer coisa, e não digo isto pelas horas. Você sabe do que estou a dizer, do tempo. E por mais que ainda te ame, eu sei que após tantas feridas e decepções este amor já não vai durar tanto tempo. Mas precisava dizer lhe tudo isso que estavas engasgado, agora posso te deixar ir em paz, seguir o seu caminho para algum lugar bem longe de mim. Agora aceito que não devo te querer, e começo a querer isso. E nem preciso dizer para não se preocupares, porque sei que já te preocupo o suficiente para você me procurar. Mas de qualquer jeito, vou ficar bem. E não mais te ligarei.” Fez uma pausa para o momento dramático. “Adeus”. E desligara sem esperar resposta

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