Acordou logo no começo da manhã. Não tinha um primeiro pensamento, era apenas a primeira coisa que visse. Ou talvez nem isso. Talvez no banho quente, da manhã fria, lembrou de alguma coisa que não foi feita ontem à noite, e era pra já. É. Coisas mundanas. Se via um ou outro livro pela casa. A tevê não era ligada há séculos, e não se sabe exatamente porquê. Vai ver é porque tinha estragado, ou já nem valia mais à pena. Ah... Hoje em dia os programas só passam desgraças, coisas que se vê do outro lado da rua. Não é preciso de programa de televisão pra enfatizar o rumo do mundo. Queria arrumar um jeito de consertá-lo, mas não sabia como, nem por onde começar. Se trocava, fazia café. Lia o jornal, nada de interessante. Nem mesmo na seção de piadas. Pois é. Acho que ela perdeu a graça, o senso de humor. Quiçá a vida. Vai ver tinha virado apenas uma casca com conteúdo. Um fantasma ainda vivo. Não tinha definição. Era totalmente e exatamente sem definição.
Andava nas ruas. Chegava no trabalho. Cadê? Pra quê? Quem? Ah. Acabava, era apenas isso. Algumas palavras por dizer, pra não perder o contato. Só o necessário. Parecia aquelas charadas que não tem resposta, um mistério sem solução. E como tais, a muito desistiram de encontrar as soluções e respostas. Ela já nem ligava. Tinha seu mundo, e isso bastava. Mal se entendia, que dirá os outros a entenderem. Deixa pra lá, esquece isso. Nem era necessário pensar, já sabia. Pega uma xícara de café, admira a vista mais uma vez na semana. Não se cansava nunca, era a única coisa que embelezava aqueles olhos. Mas era só aquilo, dificilmente via beleza em mais alguma coisa. Ou em alguém. Apesar de querer salvar o mundo, já não acreditava nos seres humanos. Os mal feitores, de sempre à sempre. Chega.
Já era noite. E invés de céu estrelado e noite serena, tinha chuva e umidez. Filme, edredon e chocolate quente? Deixa pra lá. Isso é pros amantes. Pega um bom livro e relê. Decora mais uma vez aquela página... 47 não é? A que tinha aquelas frases que você ama, e não se cansa de ler. Só pra relembrar, pensava. Mas não era, queria manter viva a faísca em si que ainda acreditava no amor. Mas relutava e não queria admiti-lo. Não queria voltar a amar. Não queria voltar a ver beleza e cor em um mundo tão cinza e tão destruído. Já tá no fim, agora não adianta mais. Volta à página. Mas não tenta de novo.
Colocou o livro do lado, naquela enorme cama de casal. Pegou um casaco, vestiu, e se aproximou da janela. Ficou vendo - e talvez admirando - a chuva. Chuva, chuva, chuva... Lava essas ruas. Lava essas pessoas, tira o ruim de dentro delas, deixa só o bom. Quem sabe assim o mundo anda novamente. Pensava. Um pouco de esperança não fazia mal. Na medida certa, e só. Sentou na cama, olhou pro nada. Mas não pensou. Deixou a mente vagar no vazio, atoa, pra nada. Pra quê? Pra nada. Acorda do transe menina, o telefone tá tocando.
- Alô? Oi mãe. Tô bem. Comi. Ahã, pode deixar. Tá bom. Amanhã passo aí. Boa noite, dorme bem. Vou me cobrir. Tchau.
Olho pro nada mais uma vez. Mas não havia nada para pensar, sequer achar. Deixa pra lá. Deitou na cama, dormiu. Horas depois o despertador tocou. Quê? Perguntou pro nada. Olhou as horas. Eram horas iguais. Pra quê? Dá na mesma. O dia já amanheceu.
Ary =) estou por aqui também e vou-te seguir! Depois te indico lá nos meu blog porque adorei aqui! Espero que goste do meu também flor. Beijinho e boa noite.
ResponderExcluirVocê escreve bem =) gostei muito! Ah e seguir, é lá em cima mesmo como aqui no teu! Continua eu gostei de verdade!
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