terça-feira, 16 de agosto de 2011

Vida sem gosto


- Então você está, de fato, a querer e a esperar ansiosamente pela morte? - Perguntava aquele homem de estatura média, com um pouco mais que trinta e cinco anos, de cabelos castanhos claros, de nome Tiago.
- Sim. A vida já não mais me pertence. - E Laura se calava novamente.

Laura era jovem, havia poucos meses que tinha completado vinte e três anos. Não era muito alta, mas tinha quase uma estatura mediana. Era desenhista, e parecia levar uma vida boa e tranquila. Parecia incrivelmente feliz todos os dias, sempre animada e cumprimentando todos os conhecidos que via.
Tiago agora olhava atentamente para ela, tentando rever o que dela conhecia, e que descobrira agora. Como poderia ele acreditar? Aquelas novas informações simplesmente não se encaixavam. Mas agora tinha no olhar uma ternura. Uma ternura por aquela garota que mal conhecia. Tinha vontade de aninhar teus cabelos, e pedir pra ela desejar pela vida novamente, e não mais pela morte. Tinha vontade de cuidá-la, e não que ele quisesse fazer dela sua, mas queria tê-la por perto sempre que pudesse. De alguma forma, ela lhe trazia uma paz de espírito que ele só sentira uma vez na vida.

- E porque achas isso?
- Pelo simples fato de que nada mais me satisfaz. A vida não tem mais gosto, assim como a comida, como qualquer lazer, como qualquer distração. Sequer um amor me satisfaz. Nada mais parece sustentável. Nada mais parece valer à pena.
- De certa forma te compreendo. Nos meus trinta e sete anos de vida, já passei por fases parecidas como essa que você está passando agora. Mas não desejei pela morte, apenas… parei no tempo. Me esqueci como era viver. Dizia viver, mas apenas sobrevivia, me agarrando cada vez mais à um passado que não existia. Enfim, essa fase obscura passou, e agora estou aqui. Se quiser, posso lhe ajudar… - Dizia Tiago, ao relembrar que na fase obscura pela qual passara, ninguém lhe estendeu a mão em ajuda.
- Não sei se deve perder o teu tempo comigo. Digo, você deve ser um homem ocupado, e eu, uma simples garota que espera pela morte, não o devo ocupar. Não vale à pena você o gastá-lo comigo.
- De forma alguma, Laura. - Dizia Tiago em um tom mais sério. - Qualquer vida vale à pena. Você acredita que todos viemos por um propósito?
- Acredito, quer dizer, acreditava. Passado. Agora já não sei de mais nada…
- Pois então, quem sabe o meu propósito seja te ajudar? Quem sabe até te salvar dessa tua vida sem gosto. Talvez não seja por acaso que te encontrei aqui justo agora.
- Quem sabe… Eu só não quero lhe incomodar. A última coisa que você provavelmente precisa é de uma suicida na sua vida. - Laura ri.

Tiago observa Laura rir. Ela tem um sorriso tão doce. Queria poder descrever a paz que aquela presença lhe trazia.

- Não vai incomodar, relaxe. E se incomodar, eu lhe digo. - Tiago agora também ri. - Brincadeira. - Tiago estende a mão, para Laura se levantar.

Laura que antes estava sentada no chão da garagem do prédio de ambos, agora estava com a roupa um pouco suja. Tiago olhou atentamente ela se levantar, e ao olhar de perto para o rosto dela percebeu que havia caído ali algumas lágrimas. Passou o mão em seu rosto, de leve, para secá-lo. Reparava agora que Laura tinha lindos olhos verdes, que contrastavam perfeitamente com o cabelo ruivo e com sua pele extremamente branca. “Ela é realmente muito bonita” pensava. 

- E então…? - Dizia Laura, como que quebrando o próprio encanto.
- E então que agora vou te levar no parque de diversões mais próximo! A partir de hoje a tua vida começará a ter gosto. E que tal o gosto de algodão doce? - Tiago sorriu docemente.
- Perfeito! - Laura retribuiu o sorriso com a mesma doçura.

E então, a partir daquele dia Tiago tornara-se o melhor amigo de Laura, e vice versa. E daquele instante em diante, foram felizes para sempre… Ou melhor, foram felizes para a vida.

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